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Taxa extra na conta de luz pode até dobrar por causa de medidas para evitar racionamento

Cálculos do governo apontam para a necessidade de elevar a bandeira vermelha 2 dos atuais R$ 9,49 para algo entre R$ 15 e R$ 20.

As medidas adotadas pelo governo para evitar um racionamento de energia elétrica vão custar caro para o consumidor. Novos cálculos internos do governo apontam para a necessidade de que a bandeira vermelha nível 2, hoje em R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora (kWh), seja elevada para algo entre R$ 15 e R$ 20. Há ainda um cenário-limite de até R$ 25, mas é improvável que ele seja adotado.

Na próxima sexta-feira (27), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) deve definir qual bandeira vai vigorar nas contas de luz do mês de setembro. Como não há sinal de melhora nas condições de abastecimento e diante da situação crítica dos reservatórios das usinas hidrelétricas, a expectativa é que a bandeira vermelha nível 2 seja mantida até o fim do ano.

Em junho, a agência abriu consulta pública para decidir se manteria a taxa extra em R$ 9,49 ou se aumentaria o valor para R$ 11,50. Esses valores, no entanto, foram propostos pela Aneel antes das ações adotadas pela Creg (Câmara de Regras Excepcionais para a Gestão Hidroenergética), grupo presidido pelo MME (Ministério de Minas e Energia) e criado por meio da Medida Provisória 1055.

Desde que o comitê foi criado, o governo adotou diversas ações para tentar evitar apagões ou ainda a necessidade de um racionamento de energia. A termelétrica William Arjona, em Mato Grosso do Sul, por exemplo, tem um custo variável superior a R$ 2,4 mil por megawatt-hora (MWh), e a importação de energia da Argentina e do Uruguai, por exemplo, custa mais de R$ 2 mil por megawatt-hora (MWh). Por dia, o Brasil importa 2 mil megawatts dos países vizinhos.

Governo trabalha com opções e cenários
Uma das possibilidades é aumentar a bandeira vermelha 2 de forma a cobrir todo o déficit entre setembro e dezembro. Isso exigiria um valor extra muito elevado, de até R$ 25, mas que seria retirado das contas em 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro deve disputar a reeleição.

Outro é cobrir o rombo até abril, de forma mais branda, aprovando dois valores para a bandeira: um, mais elevado, para vigorar entre setembro e dezembro, e outro, mais baixo, a ser aplicado entre janeiro e abril. Por fim, outra possibilidade é aumentar a bandeira para um valor intermediário e único, válido entre setembro e abril, de cerca de R$ 15.

Em tese, a decisão sobre o reajuste da bandeira tarifária caberia apenas à Aneel, mas o órgão regulador quer ter o aval do MME para adotar uma medida tão impopular – no caso, da Creg e do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico). O colegiado se reuniu de forma extraordinária na tarde desta terça-feira (24).

O sistema de bandeiras tarifárias foi criado em 2015 para indicar os valores da energia no País aos consumidores. Na prática, as cores e modalidades – verde, amarela e vermelha nível um e dois – indicam se haverá ou não cobrança extra nas contas de luz. A medida também atenuou os efeitos no orçamento das distribuidoras. Até então, as empresas eram obrigadas a carregar os custos, que só eram repassados às contas de luz no reajuste tarifário anual.

Enquanto os reajustes tarifários ordinários nas tarifas dos consumidores são feitos apenas uma vez por ano, os valores das bandeiras são repassados mensalmente. Porém, com o agravamento da crise hídrica e o aumento do custo de geração, eles não têm sido suficientes para cobrir toda a despesa para a compra de energia. Assim, há um problema de descasamento entre o que as concessionárias precisam pagar agora aos geradores e o que estão efetivamente recebendo dos consumidores.

Conta de luz em 2022
Os reajustes na conta de luz do ano que vem também viraram preocupação para o governo. As estimativas da Aneel apontam que as tarifas devem subir, em média, 16,68%. A previsão levou o governo federal a admitir que já busca soluções para amenizar os reajustes nas contas de luz em 2022. A avaliação de especialistas é que as medidas podem representar um alívio momentâneo, mas podem resultar em um tarifaço nos próximos anos.

Entre as medidas estudadas estão a devolução aos consumidores de créditos tributários gerados pela exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins na conta de luz, o que já vem sendo feito ao longo deste ano, a redução do serviço da dívida da Itaipu, prevista para se iniciar em 2022 e a antecipação de um “valor expressivo” dos recursos da privatização da Eletrobras, estatal com enfoque em geração e distribuição de energia, para abater nas tarifas. De acordo com a Aneel, esse aporte pode somar R$ 5 bilhões.

*O Sul

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