A beatificação do cardeal Wyszyński, um pilar da Igreja polonesa
A vida do cardeal Stefan Wyszyński está entrelaçada com a história conturbada e difícil da Polônia durante os anos de comunismo e o florescimento do sindicato dos trabalhadores “Solidarność”. Sua beatificação, inicialmente prevista para 7 de junho de 2020, acabou ocorrendo no domingo, 12 de setembro. O processo da Causa sofreu uma reviravolta em 2018, quando o conselho médico da Congregação para as Causas dos Santos reconheceu a recuperação milagrosa de uma freira de 19 anos, que sofria de câncer de tireoide.
Personagem proeminente da Igreja do século XX
Nascido em 1901, desde jovem sacerdote revelou ser um ativista social, especialista em ciências sociais católicas e criador, entre outros, da Universidade cristã dos trabalhadores com sede em Włocławek e o editor do “Ateneum Kapłańskie” (O Ateneo sacerdotal), uma revista de alto nível.
Graças a essas iniciativas bem sucedidas, Pio XII o nomeou bispo de Lublin em 1946. Dois anos depois foi nomeado primaz da Polônia, metropolita de Gniezno e Varsóvia. Por 33 anos conduziu de fato a Igreja na Polônia, ocupando o cargo de presidente da Conferência Episcopal. Era legado pontifício (na ausência do núncio) e tinha poderes especiais que havia recebido da Santa Sé após o falecimento em 1948 de seu predecessor, o cardeal August Hlond. Esses poderes especiais permitiam-lhe ter jurisdição nas ex-terras alemãs atribuídas à Polônia e cuidar dos católicos no território da União Soviética. Em janeiro de 1953 ele foi criado cardeal.
A sua vida é inegavelmente marcada pelo encarceramento, de 1953 a 1956. A escancarar as portas da prisão o seu: “Non possumus!”, pronunciado diante da tentativa dos comunistas de assumir o controle das nomeações na Igreja. Sem acusação, julgamento ou sentença, ele foi preso. Três anos nos quais o cardeal Wyszyński traçou um programa de renovação moral da nação polonesa. Os pilares deste programa foram a consagração da sociedade à Mãe de Deus (Os Votos da Nação em Jasna Góra, em 1956) e, em seguida, o programa da Grande Novena, que incluia 9 anos de pastoral e de oração antes do milésimo aniversário do Batismo da Polônia em 1966. A novena foi acompanhada pela peregrinação de uma cópia da imagem da Nossa Senhora Negra de Częstochowa por todas as dioceses polonesas.
A entrega total a Maria
Um dos traços mais característicos da espiritualidade do cardeal Wyszyński era sua devoção mariana, que tinha um caráter decididamente cristológico. Isso se expressava, entre outras coisas, no slogan que costumava repetir: “Soli Deo per Mariam“. Nele, também era muito presente a disposição de perdoar seus perseguidores. Quando Bolesław Bierut, presidente comunista e perseguidor da Igreja morreu, Wyszyński imediatamente celebrou uma Santa Missa pela alma em sua capela particular. Em seu testamento ele escreveu:
“Considero uma graça o fato de ter podido testemunhar a verdade como prisioneiro político pelos três anos de reclusão e ter podido me proteger do ódio dos meus compatriotas que governam o país. Tendo consciência dos erros que eles cometeram contra mim, eu os perdoo de coração por todas as calúnias com as quais eles me honraram”.
Amizade com Karol
Wyszyński é para Karol Wojtyla um irmão mais velho na fé, um exemplo de coragem e firmeza interior que muito influenciou a formação do futuro João Paulo II. “Ele é um pilar para a Igreja de Varsóvia e um pilarpara toda a Igreja da Polônia”, escreveu ele numa mensagem por ocasião da sua morte em 28 de maio de 1981. O Papa estava hospitalizado após o atentado na Praça de São Pedro e enviou aos funerais o secretário de Estado, cardeal Agostino Casaroli. Duas figuras – Wojtyla e Wyszyński – que tornaram grande a Igreja polonesa e que hoje como Santos continuarão a guiá-la.
Benedetta Capelli – Cidade do Vaticano
Fonte: vaticannews