Área plantada de feijão despenca; produto vai faltar na mesa do brasileiro
A área plantada de feijão no Brasil despencou nos últimos 40 anos. No período de 1981 e 1982, a área plantada era de 6,153 milhões de hectares, enquanto em 2021/22, é de 2,816 milhões, de acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) — uma queda de 54%.
O dado deste ano é o menor desde 1976, início da série histórica, e representa a área plantada total no ano, incluindo três safras. Mas isso significa que a produção vai acabar no longo prazo? Os especialistas ouvidos dizem que não, mas apontam para o risco de desabastecimento.
Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), afirma que o feijão não deve desaparecer das prateleiras.
“Não acredito que o feijão desapareça, porque a sociedade não vai deixar. Quando existe uma diminuição no consumo de carnes, aumenta o consumo de feijão, que é a última barreira antes da fome”, afirma Lüders.
Gabriel Castagnino Viana, analista da consultora Safras e Mercado, diz que a produção atual é insuficiente para abastecer o mercado interno, mas o país acaba buscando outros feijões, como o preto que vem da Argentina.
“Em momentos como o que estamos vivendo agora, que a produção realmente é insuficiente para abastecer o consumo interno, o mercado busca feijão de países vizinhos no Mercosul. Em especial, os compradores realizam importações da Argentina”, afirma Viana.
Para Viana, é difícil falar em acabar feijão no Brasil, mas existe algum risco de desabastecimento. No entanto, ele acha que isso pode ser evitado por causa de possível aumento no preço, o que vai reduzir a procura.
“O mais provável movimento que temos em mãos para o final do ano é uma elevação significativa dos preços. Com preços aumentando, a demanda deve sofrer com pequenas reduções, o suficiente para limitar qualquer escassez de oferta”, afirma Viana.
Área plantada de feijão dá lugar a milho e soja
“A queda da área plantada se deve ao aumento das áreas de milho e soja, que apresentam uma liquidez de mercado e rentabilidade maior frente ao feijão”, afirma Viana.
O especialista diz que houve queda na produção da primeira e segunda safra deste ano. No caso da segunda, a queda foi intensificada pela geada no Paraná, que causou algumas perdas no estado. Minas Gerais e Goiás perderam produção com estiagem.
“Na terceira safra, a área também deverá ser menor por aumentos de custos de insumos e sementes para plantio”, afirma Viana.
O feijão tem três safras. A primeira é colhida em janeiro e fevereiro, a segunda em abril e maio e a terceira entre julho e setembro. Lüders afirma que as duas primeiras são de sequeiro, o que significa que dependem do clima – da chuva ou do fim da chuva, por exemplo.
Já a terceira é irrigada, ou seja, com maior controle por parte dos produtores.
Preços do feijão carioca podem aumentar
Os especialistas dizem que o feijão mais afetado com a queda de produção é o carioca. Esse tipo é produzido apenas no Brasil e não tem oferecido muitas vantagens para os produtores. Por não ser consumido fora do país, não dá para exportá-lo, o que geraria uma renda melhor aos agricultores. Isto tem feito com que as áreas plantadas diminuam também.
“O Brasil aumentou a importação de feijão preto da Argentina nesta temporada em mais de 200%. Para o feijão carioca, a situação deve ser de escassez e preços elevados. Mas, para o consumidor geral, a importação de feijão preto deve manter o abastecimento interno”, afirma Viana.
Lüders diz que uma forma de economizar é apostar em outros tipos de feijões além do carioca.
“Se todos forem consumir só o feijão carioca, não vai ter para todo mundo. Isso vai aumentar o preço na prateleira para o consumidor”, afirma Lüders.
Fonte: RS Agora