Estiagem provoca prejuízos e 15 municípios estão em situação de emergência no RS
A falta de chuvas no Rio Grande do Sul está provocando grandes prejuízos nas lavouras. A Emater informou que ainda está levantando oficialmente os prejuízos, porém diversas cidades já registraram perdas de mais de 80% nas produções.
Até a noite desta terça-feira (21), 15 municípios haviam decretado situação de emergência em razão da estiagem, conforme a Defesa Civil. Outras cinco cidades registraram perdas significativas mas ainda não decretaram emergência. A maioria delas é do Norte ou Noroeste do estado. Veja lista abaixo.
Das 15, apenas uma teve teve a situação homologada pelo estado e pela União até esta terça. Júlio de Castilhos decretou situação de emergência no dia 6 de dezembro e teve homologação no dia 16. As outras cidades ainda tem prazo de 180 dias para comprovar a situação, apresentando laudos de pessoas afetadas, situação da agricultura, entre outros aspectos.
De acordo com a Defesa Civil, com a homologação da situação de emergência, os municípios passam a ter uma série de benefícios relativos à ajuda humanitária, como repasse de recursos e auxílio em obras de restabelecimentos por meio de planos de trabalho.
Segundo a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), o estado enfrenta a estiagem desde 2019. Em entrevista ao Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, nesta terça, a titular da pasta, Silvana Covatti, disse que há falta de água para consumo humano em algumas localidades.
“Sabemos da gravidade que estamos vivendo: climática, da perda do milho no nosso estado e falta d’água nos municípios tanto para beber quanto para o trato dos animais e do produto”, destacou.
De acordo com Silvana, o estado já está tomando providências a curto prazo para tentar ajudar produtores.
“Nós já encaminhamos, estamos em fase de conclusão entre as secretarias, estamos com todos os documentos pra soltar a licitação das empresas. Acredito que na próxima quinzena do mês de janeiro, nós já queremos colocar em prática, a perfuração de 6 mil micro açudes no interior do estado, 750 poços artesianos com bomba submersa pra captação de água e também 750 conjuntos de redes de água até as residências”, destaca.
Municípios em situação de emergência
Júlio de Castilhos
Tenente Portela
Espumoso
Arroio do Meio
Fontoura Xavier
Cristal do Sul
São Pedro das Missões
Palmitinho
Santo Augusto
Tupanciretã
Barra do Guarita
Frederico Westphalen
Agudo
Alto Alegre
Caiçara
Cerro Grande (sem decreto)
Nova Bréscia (sem decreto)
Santa Maria (sem decreto)
Rondinha (sem decreto)
Pinhal (sem decreto)
A meteorologia também não é uma aliada, já que a previsão do tempo indica que o verão será de muito calor e pouca chuva. Segundo o Climatempo, no interior, as temperaturas facilmente chegarão aos 40º C durante a estação.
Em janeiro, somente no Norte gaúcho devem ocorrer chuvas levemente acima da média. No restante do estado, será um mês de poucas precipitação. E nos meses seguintes, fevereiro e março, a chuva escassa volta a predominar em todo o estado.
Lavouras com perdas de 80%
Em Espumoso, no Norte do RS, as perdas em lavouras por causa da estiagem devem ultrapassar os R$ 100 milhões. Em uma propriedade visitada pela reportagem da RBS TV, quase 60 hectares de milho se perderam.
A preocupação atual também é com o desenvolvimento da soja, já que em muitos locais as plantas não cresceram e precisaram ser replantadas. Mas para isso, a chuva é essencial.
“Como deu um sol muito quente e não choveu mais, acabou apodrecendo. Não teve as condições ideais pro desenvolvimento dela. Para realizar um replantio, precisa dar pelo menos 30 milímetros de chuva para ter uma condição ideal e restabelecer, né. Está muito triste a situação”, diz a produtora rural Jerusa Corazza.
A Emater local estima que, se a estiagem persistir, praticamente 100% da cultura de grãos será perdida no município.
“Um prejuízo enorme, trabalho do ano inteiro”, diz o coordenador da Emater de Espumoso, Lauro Colle.
Em Santo Augusto, no Noroeste do estado, além das perdas de 70% na produção de milho, famílias da Zona Rural dependem de água potável vinda de fora. Situação parecida com Frederico Westphalen, no Norte, onde açudes e poços artesianos secaram.
Segundo a prefeitura da cidade, aproximadamente 300 famílias do interior estão sendo abastecidas com 900 mil litros de água potável por mês.
“Temos dificuldades quanto a água no interior. A água potável para as pessoas também tomarem e também para os animais. Estamos levando água com dois caminhões direto para os nossos agricultores, que está faltando água em todo o nosso município”, diz o secretário de Agricultura de Frederico Westphalen, Gildo Roque Bussatto.
Em Palmitinho, cerca de 80% das lavouras de milho foram afetadas. Um caminhão pipa também está sendo usado para levar água pro consumo dos moradores.
Já em Fontoura Xavier, o último registro de chuva volumosa foi no início do mês de outubro. Cerca de 5,5 mil pessoas estão sendo afetadas, o que representa mais da metade dos moradores da cidade.
Programa Avançar
No início do mês de dezembro, o governo do RS anunciou o programa Avançar na Agropecuária e no Desenvolvimento Rural, com aporte de R$ 275,9 milhões. Segundo o estado, o valor é o dobro do que já foi investido no setor nos últimos 10 anos.
O investimento será voltado ao atendimento de três grandes eixos estratégicos: qualificação da irrigação (R$ 201,42 milhões), fortalecimento da agricultura familiar (R$ 35,34 milhões) e melhorias nos acessos às propriedades para facilitar o escoamento da produção agropecuária (R$ 39,15 milhões).
Um dos objetivos do programa é justamente impulsionar a produção agrícola com incentivos aos projetos de irrigação e construção de açudes, preparando as comunidades rurais para enfrentar períodos de estiagem.
Fonte: g1 RS