Morte de traficantes comove mais a mídia do que o assassinato brutal de bebês
Terça-feira, 4 de maio de 2021, um sujeito de 18 anos portando uma espécie de espada com cerca de 80cm de lâmina invade uma creche no município de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, e mata com vários golpes três bebês, um de 1 ano e 7 meses, outro com 1 ano e 8 meses e outro com 1 ano e 9 meses.
Além das três crianças, todas menores de 2 anos, o criminoso também matou as professoras Kelly Adriane Aniecevski, de 30 anos, e Mirla Amanda Renner Costa, de 20 anos. Outro bebê de 1 ano e 8 meses também foi ferido gravemente e precisou ser internado numa UTI, onde passou por cirurgia e agora está fora de perigo.
O nível de repercussão dado pela imprensa sobre este crime bárbaro não parece ter sido suficiente para ocupar a maioria das manchetes jornalísticas. No mesmo dia, outro fato triste ocorreu no país, a morte do humorista Paulo Gustavo, vítima de complicações pelo coronavírus.
Sem querer mensurar o valor da vida de seres humanos, pois todas merecem atenção, mas, parece que o falecimento ‘natural’ de alguém em decorrência de uma doença também causou mais comoção do que o assassinato de bebês e professoras a golpes de espada.
Nem mesmo por tamanhas perdas a rede Globo, por exemplo, deixou de transmitir a final do BBB. O entulho televisivo que infelizmente ainda atrai milhões de pessoas parece ter competido, também, no ranking midiático de atenção naquela terça-feira sombria.
Talvez, o grupo jornalístico com o maior número de mídias no país não tenha quisto repercutir massivamente o clima trágico do assassinato brutal de bebês para não estragar a ‘vibe de festa’ sobre a final do BBB. Algumas manchetes aqui e outras ali. Nada muito intenso. Só mais uma notícia qualquer, certo?
Outro cenário
Quinta-feira, 6 de maio de 2021, a Polícia Civil do Rio de Janeiro fez uma operação contra um grupo criminoso acusado de aliciar menores para o tráfico de drogas. Até o último boletim da corporação, foram mortos 27 criminosos. Infelizmente, um policial chamado André Frias também perdeu a sua vida no confronto com os bandidos. Ele era responsável pelo cuidado da mãe acamada, vítima de AVC.
Em discurso durante o sepultamento do policial André, o secretário de Polícia Civil do RJ, Allan Turnowski, elogiou a ação da polícia e confirmou que todos os 27 mortos na operação eram traficantes, sendo a maioria (19) já com antecedentes criminais.
“A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes. 19 com folhas corridas até agora”, disse o secretário, destacando que “não foi em vão” a morte de André, bem como a eficiência dos policiais na execução dos criminosos que resistiram ao confronto.
“Quem conhece um pouquino de operação, o traficante, o criminoso, quando a gente entra na comunidade ele atira para fugir. Ontem [quinta-feira], eles atiravam para guardar posição, para matar. Eles tinham ordem para confrontar, para ficar. Eles não correram. E o que a polícia civil mostrou ontem foi técnica, foi maturidade, foi profissionalismo”, afirmou o secretário.
Entre os dois fatos narrados, o atentado na creche de Saudades e a operação policial no Jacarezinho, ficou evidente ao longo de toda a quinta-feira até este sábado (08) o quanto a imprensa deu amplo destaque à morte dos traficantes em tom de “comoção”. Alguns veículos de imprensa chegaram a publicar manchetes chamando os criminosos de “vítimas”.
Organizações de “direitos humanos” se manifestaram contra supostas irregularidades da Civil. “Especialistas” também, e todos, como de práxis, fazendo coro em críticas aos agentes de segurança pública, como se eles fossem os vilões e não os traficantes acusados de aliciar crianças para o tráfico.
Este é o retrato do contexto moral vivenciado no Brasil: uma total inversão de valores, onde a vida e os direitos de bandidos são mais reivindicados e protestados do que a de bebês e professores assassinados numa creche a golpes de espada. A resposta contra isso deve vim da sociedade, através das urnas, da educação e da audiência. Sendo assim, a pergunta é: de qual lado você está?
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Por Will R. Filho – 8 de maio de 2021, para o jornal OPINIÃO CRÍTICA.